1. |
Pâmela
03:28
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O AMOR NUNCA SERÁ O BASTANTE
Ter o amor entre as mãos como um pássaro
que ainda não sabe sobre o homem,
como a dizer calma e em seguida enforcar-se
numa árvore, como a desejar a gaiola
para queimar o interior e dizer-se liberdade
sem que lhe descubram a chama silvestre.
Ter o amor entre as mãos como um pássaro
que já sabe sobre o homem
e o abandona por sabedoria.
(P.F. Filipini)
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2. |
Maria
02:02
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Vida correria
dia a dia
moto contínuo
nostalgia
alegria
agonia
num tapete sonoro me apoio
para contemplar
a paisagem auditiva
caótica sinfonia
movimento o botão redondo do rádio
buscando uma frequência
em sincronia
sincronicidade
a cidade
uma estação
quantas?
caleidoscópio de melodias
a fotografia sonora daquela tarde
tem cheiro de jasmim branco
perfume doce de felicidade
pontilhismo na grama de cimento
notas na pauta
traços
manchas
a câmera se afasta
e quanto mais distante
a paisagem
mais impressionista
ela se torna
a visão do ouvido
também enxerga
subdividimos
os momentos
o tempo
porque?
tarde
manhã
passado
noite
presente
ontem
logo
aquela vez
aquele dia
aquele tempo
o concerto ruidoso do pensamento
(Maria Clara Coelho)
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3. |
Erlândia
03:20
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truques com facas
repito as fugas. acho que encontro um novo esconderijo. me afasto e escuto os mesmos ruídos. barulhos que causam caos. acredito no tempo-agora e sofro todas as investidas. derreto. encontro. peco. testando limites. toda inocência é quebrada. violentamente sei, violentamente vivo, violentamente morro. quando todos os baques estiverem contabilizados a hora de dormir virá. dando fim aos pertencimentos, iniciando truques com facas.
(Erlândia Ribeiro)
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4. |
Anderson
04:35
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Universal Particular
Eu,
que sou todo matéria,
corpo jogado no mundo, intervindo ante a força da gravidade.
Eu,
eterno encontro e desencontro,
sensação da vida pós-evolucionista.
Homem-macaco,
os pés e as mãos e a força do tato.
Racional enigmático.
Falsário.
Escrevi os textos mais (ridículos).
Amante desqualificado:
amei dezenas de mulheres,
falhei com todas.
Não sei dessa coisa chamada vida,
quem sabe?
Quando um meteoro colidir com nosso corpo universal chamado terra,
a guerra milenar da luta de classes então terá seu fim.
Entre a moral,
falta do que comer e
cosméticos,
nesse momento estaremos em uma explosão catatônica
que ecoará no universo por milênios.
Na rodovia à beira do bairro,
automotores deixam seu rastilho de som,
pairando sobre o ar,
do tempo até a percepção da audição.
Pequenos pontos de luz
dão a dimensão de certos objetos.
De resto,
apenas o grandioso breu,
os grilos e os sapos a cantar.
Ergo a cabeça aos céus
e vejo tantos celestes.
Daqui as estrelas mortas brilham mais,
são imortais e não desvanecem.
O amanhã nascerá sobre a irmandade dos deuses,
da raça humana,
dos animais,
das plantas,
e todos os que habitam este mundo vão.
Não há que se temer a morte nem a dor.
Do pranto nascerá uma flor ainda mais bela,
para reivindicar a beleza manifesta de que é: existir.
(Anderson Oliveira)
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5. |
Hifa
02:42
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Dadaístas não gostam de aniversário
e ficam reclusos quando eles ocorrem
os outros festejam
comemoram sua vida a terra
e dadaístas se isolam na semiescuridão
como a meia luz de uma fogueira iluminando o rosto
encostando seu ombro numa rampa
os convidados festejam e dançam
especulam
o que ele está a pensar?
enquanto a cachorrinha imperativa espreita na mesa
os outros cães estão à uivar
o frio coloca os convidados para dormir
enquanto Dadaístas
se põem contrapor duas moças que estão em prosa
jogou as palavras soltas para provocar e.. gargalhou,
gargalhou por dentro
elas também se foram...
dadaístas estão à queimar o rosto em uma fogueira enorme por dentro
dadaístas... estão à pensar
a reviver
ao lembrar
estã por dentro inteiros e recortados
como folhas de revistas jogadas no vento
voam, dispersam
as palavras recortadas não fazem sentido
mas se fez
se é
e não importa para quem o lê
porque Dadaístas
não desejam a leitura
a leitura é linear sobre si
desejam o recorte
o amassado
o papel no fone jogado
o mesmo fogo
que queima o rosto
e ilumina a metade do corpo
(Hifa Cybe)
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6. |
Aline
01:41
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gestando a mim
mesma,
fecundei
me úmida
embebida em
desejo.
desde então alimento
meu sonho-ser
no parto
não me deixo
molho cada
passo-Oxum
deslizo em
minhas carnes
acolho o
vermelho do
caminho como se nele nadasse
desmancho-me
em som
pulso nas ondas
que cismam
repetir ci
clicamente
morro para nascer
minguo para encher
vibro para ser
sim
sinto
soul
sonho
(Aline Monteiro)
|
||||
7. |
Amarcel
01:38
|
|||
Subjetarei-mi ao estado das coisas
Subjeto de mim
Subjetividades inventadas
Que voam como borboletas minúsculas
No amanhecer
Diante da PenunbrA
Frágeis e minÚsculas criaturas
Sem objetivo ativo
Sem poupança
Sem sonhar em furar o rio
Rejeitar a forma
Deformar o ventre
Criar palmares de alpendres
De relâmpagos sem nome
Desafiando essa multidão desforme
Formada por pensamentos projetadUs
Dustribuídos por abelhas automáticas
Zumbindo no frio
Enquanto o sol arde na cabeça
E a violência é um anjo besta
A vida se torna uma besteira
Corro sozinha
atrás de uma montanha
De obstáculos
Procurando um fracasso
Para voar como borboleta
De poucas horas
Flutuando no mundo pela penúltima vez
(Amarcel)
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8. |
Marcela
01:13
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O corpo todo; todo corpo.
O corpo todo
Todo corpo
A pele é o corpo
A cor é o corpo
O cheiro é corpo
O corpo todo
Todo corpo
Se a cabeça dirige
O corpo é estrada
Se a cabeça perde
O corpo maltrata
Se a cabeça ganha
O corpo destrata
Se a cabeça nada
O corpo encaixa
O corpo é todo
O corpo é nada!
O corpo todo
Todo corpo
(Marcela Bonfim)
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9. |
Isabel
02:49
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|||
Corrente
mente
Reverte
e inverte o vórtice
de um certo entendimento
que era ligado ao elo
de ser pessoa
crente
que vinha
decentemente
tecendo
um veio forte
de ver o mundo
que era de andar
revendo
vendo
agora
o que vinha sendo sucesso
e que já não vale de nada
me diz
agora
o que vem?
(Bel Medula)
(Foto por: alfamor)
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10. |
Érica
02:20
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As mães estão quebrando
Mas os filhos o quê?
Lidam com trapaças
Meticulosas
Extrações
Ferrovias de artérias
Músculos do grande olho
Paredes
Portões
Abre
Fecha
Salas de coorte
Pleno espaço prisão
Os índices de coagulação
dos medidores hiperatentos
Diâmetro exato
Boca da válvula biônica
Os legados de desafeto,
dispersão a tiracolo
A tirania das pequenas
agulhas
sempre implacável
Ossobuco básico
dos ensinamentos
Assepsia desregrada
por temer o melhor
desempenho da arma
Os contagotas que pinicam
Os pinos batendo no arranha céu
E o gosto amargo da lua cheia
O sol nascendo e se pondo
sem tocar feridas ali mais à frente
Um transeunte
Um fim para ele
Para mim: desespero
Outro dia com as superbactérias
Amigos, não estariam, claro
Minha estirpe corpulenta
Estamos ouvindo, não toque
Vacilos de uma boa mão
As mães estão em choque
Rompem noites
Rompem horizontais
Minha cabeceira suporta
Das colmeias não saberiam
Tão assim para um verde
E sempre mais pro azul
Doze panos para tantos
Dias e dias de ai de nós
Costura a mãe, mas antes
Partilhem-na com o mundo
Abram as mães, enlouqueçam
Gastem seus dias ainda claros
Joguem-na para o alto e avante
(Érica Magni)
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11. |
Rinaldo
03:17
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Esta
Flor
Quanto mede esta
Flor
Esta
Esta
Flor
Esta flor é do tamanho de uma
Flor
Esta
(Rinaldo Santos)
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||||
12. |
Mariana
02:28
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|||
Costuma ser lento, mas pode ser de repente
singular e imprevisível,
acontecendo todos os dias
catástrofes,
uma vida,
uma vida
os pássaros seguem a voar
os galos, eu os ouço mesmo com o barulho das explosões
me surpreendo
mas assim fazem, todos os dias
é preciso estar atento para ser leve
é uma espreita especial
em que os ouvidos sentem mais que os olhos
a força de um vulcão, um vírus, e nós temos poder de destruição.
a natureza pode ser calculada,
a natureza pode ser inesperada.
deus não existe,
e eu sou toda feita de natureza
você até pode usar a natureza, mas é melhor trocar com ela
você já sentiu que todo o tempo do mundo não é tempo o suficiente?
poucos encontros
na vida
transbordam
serenidade
respeitar os tempos
é algo que vulgarmente
não se faz
natural
artificial
potente
impotente
(Mariana Leighton)
|
||||
13. |
Morgana
03:48
|
|||
.c.o.n.t.r.a.p.o.e.m.a.d.i.g.i.t.a.l.*
pixels provocam síndromes de afetos e idéias fragmentadas
tecnologias são pessoas & plantas & partículas do uni.verso
expansão existencial e produtiva
autonomia de pensamento e expressão
encontros de naturezas variadas
redes socio-digitalizadas
comunicação descentralizada
articul.ação política rizomática
som.ática
sinto.m.ática
apropri.ação dos meios de produção & di.fusão de conhecimento livres
inter.atividade
des.construções de espaço-temporalidades
id.entidades multiplicadas
dígitos tecno.polifônicos
saberes compartilhados
sistemas abertos & fechados
produção de realidade virtual & concreta
ruptura com as fronteiras geo.gráficas
disparidades socio-digitais reconfiguradas
zonas de micro.poder inter.caladas
fluxos des.contínuos
imaginário coletivo experimental
teias de alteridade
nomadismo intelectual
variações linguísticas
tecno-dialetos
caoSSocializado
corpo-mente-poro
fibra-ótica
dança dionisíaca em ritmo de bytes
egos pseudo-solitários
laços desterritorializados
orgia cerebral
alma - corpo em trânsito
verso
imerso
aberto
desperto
no ombro de cada paixão
vi.vendo
co.rr.endo
am.ando
jo.rr.ando
part.indo
átomos em sutis explosões binárias
códigos fonte como pontes de linguagem
bobagem
viagem
veia inflacionada de tântricas razões
força conceitual inerente ao fenômeno
anônimo
pseudônimo
heterônimo
homônimo
que se percebe movimento
des.toando a toda fixidez
im.pulsos de 0 e de 1
namastê
saravá
e amém.
(Morgana Gomes & Caio Tiago)
* Poesia experimental escrita em fluxo contínuo, via bate-papo virtual, sobre os impactos das mídias digitais em nossos corpos e relações. A fragmentação das estruturas vigentes, quer sociais, políticas ou subjetivas, possibilitada pelos novos meios de comunicação, reflete-se na autonomia de cada verso, permitindo uma leitura livre da disposição apresentada.
|
||||
14. |
Ninguém
00:52
|
|||
(Ninguém)
|
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15. |
Mateus
01:50
|
|||
Eles odeiam ver um preto livre
Livre com um livro na mão (3x)
Eles odeiam ver um jovem livre
Por que não conseguem conter.
Nas veias abertas da América latina
Exploro minha veia artística
Pra não ser estatística
E lá do alto da minha laje eu já peguei a visão do águia e uns mandado ali da esquina tá!
Esse é o mundo cão onde a paz tá no arrego
E não passa de ilusão
Igual a meritocracia
As escolas não te preparam pra vida
E se pá, lá tem mais grandes do que na delegacia.
E só sucesso do governo tá em tirar nossa vida
E o número de corpos
Lá na periferia
Os muleque tão só vendo
Os muleque tão crescendo
Igualmente ao ódio cego
Por isso eles senta o dedo
Por isso eu não sossego enquanto a imagem do gueto for outro jovem preso, na sua televisão
Preste a sumir se ele não assumir
Difícil resumir por que as coisas são assim
Política pra rico é isenção de juros
Pra nós é vigiar e punir
Observo a covardia de quem investe em ignorância
Pra lucrar com o tiroteio de todo santo dia
Já que a guerra as drogas dá o preço da moradia nosso crime é nascer pobre não este que tá na mídia
Bem vindo ao inferno
O inferno são os outros
Os outros tão de terno agindo na covardia
O homem moderno te fez de subalterno
Pelo lucro ficou louco e escravizou meu povo
Enquanto o pobre no sufoco com a corrente no pescoço pela janta vende o almoço lutando por mais um dia
Máquina de louco, quem diria sério isso aqui é uma necropolítica
O plano é dividir pra conquistar , tá
Já que eles temem o que não podem controlar
Já que eles não param de matar, tá
Vamos se unir e começar a contra atacar
Tira a mão do meu futuro a juventude quer voar com respeito e unidade assim se faz um bom lugar
Eles odeiam ver um preto livre
Livre com um livro na mão
(Mateus Sousa)
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Desmanche O Selo Porto Velho, Brazil
Selo de música sediado em Porto Velho, Rondônia.
desmancheoselo@gmail.com
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